Máscaras larvárias, a metamorfose
corporal.
Descobertas
nos anos 60 no carnaval da Basel, na Suíça, as máscaras larvárias são formas
simplificadas da figura humana: redondas, pontudas, curvas, onde o nariz tem
uma grande importância e dirige toda a face. São geralmente assimétricas, para
permitirem diferentes nuances, grandes, brancas, com a aparência de rostos
ainda inacabados.
São
bastante elaboradas, finas em seus detalhes, suscitam movimentos menores, mais
sutis. Expressam sentimentos mais complexos, evidentes em seus traços,
compondo, por exemplo, personagens do tipo o "raivoso", o "inteligente",
o "narcisista", o "medroso", etc. Permitem um jogo amplo,
simples, elementar e altamente poético. Com ela o ator busca um tipo de
movimento correspondente a máscara, com uma dinâmica e ritmo próprio.

Lotto1
afirma, [...] como Berkeley diz, nós não temos acesso direto ao nosso mundo
físico, a não ser através de nossos sentidos. E a luz que entra em nossos olhos
é determinada por múltiplas variantes em nosso mundo -- não só as cores dos
objetos, mas também a cor da iluminação dos objetos, e a cor do espaço entre
nós e esses objetos. Você altera qualquer um destes parâmetros, e você mudará a
cor da luz que entra no seu olho. Isso é um grande problema porque significa
que a mesma imagem pode ter uma infinidade de fontes
possíveis no mundo real.
Neste
processo de descobrimento do corpo expressivo, a percepção tem uma importância
ímpar para o ator, tanto do seu corpo como do espaço. Quando recebemos um
estímulo do meio, eles são captados pelos órgãos sensoriais e interpretados a
partir de nossa subjetividade e experiências.
Para
LINARES (2010:150) com as máscaras larvárias, a resposta do espectador não é
plenamente recebida pelo ator por meio do seu contato visual que, como vimos, é
muito reduzido. Sua percepção sensorial deve se manter preparada no nível de
sensibilidade mais aguçado, em estado de prontidão, para receber a resposta do
sucesso (ou do insucesso) das suas ações a partir das diversas formas de
manifestação, muitas vezes, caracterizadas pela extrema atenção, vibração,
expectativa, alegria etc., que emanam da platéia. É neste sentido que o
espectador se torna parceiro e guia do estudante/ator, orientando-o e
conscientizando-o, sem saber, no caminho que o conduz à eficácia da ação
cênica.
Considerada
a segunda máscara pedagógica, quem a utiliza pela primeira vez as máscaras
larvárias, experimentará a sensação de estar dentro de um casulo e, em
consequência dos pequenos orifícios da máscara e se orientará pela luz frontal
que ilumina a cena para assim poder manter-se de frente para a platéia. Quem a
utiliza vai ganhando com o tempo uma “inteligência” para o jogo cênico e um
repertório de novas situações.
Enquanto ensaia seus primeiros movimentos físicos e se
prepara para dar seus passos iniciais, mesmo que a princípio sejam um pouco
desajeitados, nasce um corpo que, à medida que se vai definindo em seus
contornos corporais, procura compreender o espaço, guiado pela curiosidade dos
seus sentidos, em estado de alerta e se utiliza desta escuta como uma forma de
sobrevivência. O estudante explora com interesse o novo e, assim, deixando-se
conduzir pela máscara, descobre os principais impulsos internos para agir. Em
pouco tempo seu corpo-máscara já está basicamente configurado para começar a se
manifestar com alguma organicidade e vontade particular. (LINARES, 2010:123).
O
trabalho com as máscaras larvárias “concede” ao ator um caminho da
sensibilidade com o parceiro no jogo e com o espaço em que está inserido. O
corpo começa a se guiar pelos impulsos internos, deixa-se moldar com a forma,
deixa-se entrar na forma. É o início da expressividade, da corporeidade do
ator, é entrar no mundo de imaginação com um número infinito de possibilidades.
1
Especializado
nos campos da ilusão de óptica, percepção e padrões, Beau Lotto é o criador do
estúdio Lottolab, um centro de pesquisa em ciência, design e arte localizado em
Londres. http://www.lottolab.org
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
LECOQ, Jacques. O
Corpo Poético. São Paulo: SENAC, 2010.
LINARES, Fernando J. J. A máscara
como segunda natureza do ator: o treinamento do
ator como uma “técnica em
ação”. Belo
Horizonte: Tese-Mestrado, UFMG, 2010.